quarta-feira, 4 de maio de 2016

Baianas de todos os Santos - sincretismo religioso na Bahia

Baiana em oração



gente de toda cultura vem pedir a benção aos orixás
Festa de Nossa Senhora do Amparo em Valença (Bahia)



A religião do candomblé é caracterizada pelo matriarcado. Na chegada à nova terra, as famílias eram desarticuladas, separadas, inseridas numa senzala constituídas por indivíduos de diversas nações, diferentes línguas, visando impedir a articulação de rebeliões na nova terra.


Irmandade de Nossa Senhora da Boa Morte  Cachoeira (BA)

Irmandade de Nossa Senhora da Boa Morte - Cachoeira (BA)


Roger Bastide afirma que:

       “Podemos, pois, imaginar que pequenos grupos se formavam, que laços
       de amizade como também de rivalidade se criaram, que figuras de
       chefes apareceram nesta massa informe aos olhos dos brancos; esses
       grupos puderam manter parte de sua herança cultural, enquanto os
       chefes, pelo prestígio que usufruíam, puderam impor as formas
       culturais de seus países de origem a escravos pertencentes a outros
       grupos étnicos.”  
 BASTIDE, ROGER, As religiões africanas no Brasil. São Paulo: Livraria Pioneira Editora, 1971. v.1. p. 71

 “Os ritos religiosos não são oficiados por qualquer pessoa, mas por atores determinados que mudam segundo as cerimônias. Essas, distinguem-se segundo as categorias sociais, as metades ou os clãs, os grupos de sexo e os etários, os especialistas na manipulação do sagrado e os meros fiéis, os chefes de família e os chefes das comunidades, os camponeses e as diversas classes de artifícios. Cada uma dessas categorias tem função específica a desempenhar que não se confunde com a de outros, se bem que sejam completamente e tenham em vista o bem-estar de toda a coletividade. A evocação dos mortos é deixada a cargo dos homens, enquanto a posse pelos deuses é a realização das confrarias femininas”.
 BASTIDE, Roger. As religiões africanas no Brasil. São Paulo: Livraria Pioneira Editora, 1971. v.2, p. 339.


O rei de Portugal deveria propagar a fé cristã entre os povos colonizados. Assim, cerimônias religiosas não cristãs eram proibidas, Sob o manto do catolicismo, os escravos se reuniam em torno das Confrarias religiosas ou Irmandade como “devotos”. E a partir deste contexto sobreviveu a religião africana.
Isso se deu, segundo Roger Bastide, pelo processo de “equivalências místicas” :   

“[...] não se tratava de identificá-las, nem de misturá-las, o que seria um verdadeiro sincretismo, no sentido original e exato do termo. Tratava-se de encontrar entre elas equivalências.” BASTIDE, Roger. Estudos afro-brasileiros. São Paulo: Perspectiva, 1983, p.183.
                                                         

A interpretação cultural ocorreu a partir das semelhanças funcionais entre  os santos católicos e os orixás africanos:
O equivalente de Oxossi será São Jorge, santo guerreiro:
“[...] que as imagens mostram varando com suas lanças dragões ou outros animais monstruosos[...]”. BASTIDE, 1971, v.2. p. 362.

Para Omolu, São Lázaro, “cujo corpo está coberto de feridas e que cura as doenças da pele [...]”.BASTIDE, 1971, v.2. p. 362.


Irmandade de Nossa Senhora da Boa Morte - Cachoeira (BA)

Irmandade de Nossa Senhora da Boa Morte - Cachoeira (BA)

Irmandade de Nossa Senhora da Boa Morte - Cachoeira (BA)
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A igreja impunha a inscrição dos escravos em uma irmandade sob pena de excomunhão do seu dono. Dessa forma, o candomblé uniu várias etnias que conciliariam seus deuses, e passaria por um processo de sincretismo inicialmente entre as nações africanas, depois em associação com os santos católicos.
Para poderem adorar seus orixás, tinham de, nos altares das imagens da Igreja Católica, orar para o santo e tocar tambor para o seu orixá. Dessa forma, os santos católicos pegaram carona com os deuses africanos e passaram a ser associados a eles. Assim, as festas dos santos eram estabelecidas de acordo com as datas festivas dos orixás.

As irmandades negras reuniam nas confrarias suas línguas, estrutura familiar e religião:

“Todos os acontecimentos, do nascimento à morte eram comemorados nas confrarias e quem estivesse fora delas seria olhado com desconfiança, privado do convívio social, quase um apátrida dentro dos grupos que se reuniam em associações, tentando estabelecer alguma ordem e organização”. SCARANO, Julita. Devoção e Escravidão. São Paulo: Editora Nacional, 1978. p. 37.

O candomblé esteve até os anos 1960, restrito a Bahia; Para sua sobrevivência, devidos às perseguições policiais, importante foi o apoio de artistas importantes à época: quem lê Jorge Amado encontra um candomblé vivo e pujante,   um manancial de expressões da cultura, culinária, música, religião baiana, divulgada através de seus livros. Também o fotógrafo e etnógrafo Pierre Fatumbi Verger, o sociólogo Roger Bastide, aqui citado, e o artista plástico Carybé, o cantor Dorival Caymmi, etc.
Familiaridade que transborda nas suas obras artísticas e científicas, homenageados com cargos nos terreiros de candomblé, destinados a protetores e amigos importantes.



Nos romances de Jorge Amado, o candomblé ainda não se separado catolicismo. Em "O compadre de Ogum", , na dúvida quanto à escolha do padrinho — eram vários os candidatos em disputa pela honraria —, um personagem sugere que o menino, filho de um ogã de candomblé, seja batizado “no padre, no espírita, nas igrejas de crente de todo jeito [...]. Para cada
batizado, tu escolhia um padrinho...”.  Nenhum dos candidatos ficaria de fora, ninguém sairia melindrado por não ser escolhido. Mas o narrador se pergunta:

"Que diabo iria o menino fazer pela vida afora com
todas essas religiões, não ia ter tempo para nada, a
correr de igreja para igreja. Bastava com o católico e
o candomblé que, como todos sabem, se misturam e
se entendem... Batizava no padre, amarrava o santo
no terreiro. Para que mais?"

 
A partir da década de 1960 o candomblé, que era religião de negros e mulatos, e dos  descendentes de escravos, passou a admitir pessoas de todas as raças, não necessariamente somente da raça africana. 
Gente de todas as crenças prestam homenagens a Yemanjá

Hoje na Bahia tanto os rituais do candomblé nos  terreiros quanto a liturgia católica nas igrejas permanecem intocadas da interferência uma da outra. Entretanto, as festas religiosas registradas, bem como outras como a lavagem das escadarias do Senhor do Bonfim e a festa de Santa Bárbara, entre outras, contam com a tradicional presença das baianas, neste traço de interseção entre as religiões, aonde elas se sincretizaram.

Festa do Senhor do Bonfim da Bahia



A festa teria se originado do culto a Oxalá celebrado em Ifé e tem como características a lavagem de seus objetos sagrados com água recolhida em potes num rio consagrado ao orixá, na sua colina sagrada. Essa água é levada à colina, ou ao templo pelos fiéis em procissão. Sincreticamente o Senhor do Bomfim é Oxalá.

Festa do Senhor do Bomfim da Bahia


Festa de Nossa Senhora do Amparo

Lavagem das escadarias da Festa de Nossa Senhora do Amparo - Valença (BA)
Capoeira na Festa de Nossa Senhora do Amparo



Festa de Nossa Senhora do Amparo - Valença (BA)












segunda-feira, 7 de maio de 2012

O ARCO DE ÍRIS


"A Deusa Íris parece um anjo, 
tem asas nas costas e nos pés. 
Quando Ela desce do céu forma as sete cores do arco-iris. 
É o arco de Íris. 
O arco faz a ponte de um mundo para o outro,
e a Deusa Íris desce e sobe por ele 
trazendo mensagens dos Deuses 
para os homens"

trecho do curta-metragem "O Mito Nativo do Arco-Íris"
produzido no REVELANDO OS BRASIS IV - 2011

Grande LUA CHEIA de maio


PARA SER GRANDE, SÊ INTEIRO:
NADA TEU EXAGERA OU EXCLUI.
PÕE QUANTO ÉS NO MINIMO QUE FAZES.
ASSIM EM CADA LAGO 
A LUA TODA BRILHA,
PORQUE ALTA VIVE.

Fernando Pessoa



Fotodesenho